Coluna Nas asas da sustentabilidade

Reciclagem do lixo sob a ótica de uma catadora

17/08/2017 | Nas asas da sustentabilidade, Colunas - Evandro Valentim

Reciclagem do lixo sob a ótica de uma catadora

Desta vez, volto ao tema reciclagem do lixo sob a ótica de uma catadora de lixo. Recorrerei às minhas lembranças, enquanto estão acessíveis, no “espaço” que os especialistas do ramo nomeiam ‘memória de trabalho’ ou ‘memória operacional’, para ser o mais fiel possível ao que presenciei em uma palestra, dias atrás.

Constou do evento, a narrativa de uma catadora de lixo, filiada a uma cooperativa, sobre como fazer reciclagem. Senhora com aparência humilde, que fornecia indícios de sua origem e condição social. Ela nos presenteou com um belo relato, que merece ser descrito.

De início, a catadora afirmou sentir orgulho de seu trabalho, por ser o meio pelo qual consegue o pão de cada dia, com dignidade. Uma das atribuições dos catadores dessa cooperativa consiste em visitar casas de moradores das áreas em que a instituição foi autorizada a realizar o trabalho de coleta.

O comportamento de várias moradoras visitadas, segundo a catadora, é bem comum, dado o desconhecimento, a desinformação. A reação inicial é de afirmar que não tem obrigação de separar os tipos de lixo. Nesse momento, cabe enaltecer a capacitação pela qual passou a catadora, pois é nas informações recebidas que ela se ancora, a fim de sensibilizar as moradoras, sempre ocupadas e protegidas de estranhos do outro lado das grades do muro.

Possível ou impossível: eis os argumentos

Do estoque de argumentos figuram: o que é lixo seco e lixo molhado (orgânico); o tempo que leva para que determinadas embalagens se decomponham; quanto menos lixo for destinado ao aterro sanitário, mais ele durará; a ajuda à preservação do meio ambiente…

Há, porém, o argumento com maior poder de fogo: o lixo corretamente separado contribui para o sustento das famílias dos catadores. Só naquela da qual faz parte a catadora depoente, são mais de setenta. Uma das catadoras garante ser do lixo reciclável que tira o dinheiro da faculdade da filha, para que ela tenha um futuro melhor.

A catadora, então, reproduz a fala da moradora: “você me convenceu. A partir de agora vou separar o lixo seco do molhado”.

Reciclagem do lixo - Reuters

Reciclagem do lixo – Reuters

Ao final do relato, a catadora nos contou que na semana seguinte, passou pela mesma casa e a moradora a chamou, com a expressão do dever cumprido, para lhe mostrar a forma como acondiciona os tipos de lixo, de modo a que o lixo seco possa seguir para a cooperativa e ajudar as famílias.

Mais um bom resultado, todavia a guerra está longe do fim. Quem a vencerá?

Evandro Valentim

Evandro Valentim

Brasiliense; casado, pai e avô; mestre em gestão do conhecimento; especialista em gestão de RH; administrador; e escritor. Publicou Aventura no cerrado (Assis, 2017); Aventura na floresta: bichos e lendas daqui e dacolá (Assis, 2016); “Cliques narrativos: um romance em crônicas” (Assis, 2014); e “Causos de RH: o livro” (Livre Expressão, 2011). Aprendiz sênior em temas ambientais.

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