Coluna Nas asas da sustentabilidade

Duelo

13/04/2017 | Nas asas da sustentabilidade, Colunas - Evandro Valentim

À frente, uma trilha. Deveria ser verde. E às vezes o é. Percorrê-la significa assumir desafios. Seja pelo tema, seja pela caminhada em si. Bom que houvesse companhia, uma enorme fila indiana, cumprida a perder de vista. Todos em contemplação da paisagem à volta, para compreenderem o quanto uma visão bela assim faz bem, psicológica e fisiologicamente. Enquanto a fila cresce, vale discorrer sobre a capacidade de sedução que a sustentabilidade é capaz de exercer. Sendo essa a trilha a enveredar, convém trazer uma conceituação prevalente para o termo, que diz dela ser algo como ações humanas para suprir necessidades presentes sem comprometer o futuro das gerações que virão. Poucas palavras e grande complexidade. Centremos o olhar no duelo entre áreas ainda não habitadas e o crescimento populacional. Existe a necessidade de ofertar moradia para esse povo que nasce, cresce, atinge a idade adulta, torna-se independente e almeja o próprio teto. As fronteiras entre as áreas urbanas e áreas rurais e/ou florestas já não são precisas. O urbano se expandiu em detrimento de todo o restante, que se vê diminuído (espacialmente) e acuado. Não é incomum, merecendo, no máximo, notas de pé de página, algum morador dessas áreas expandidas encontrar representantes da rica fauna brasileira nos quintais e até dentro de seus lares, graças às ocupações ilegais de terras, que ocorrem em grande velocidade, uma vez que o poder público não consegue atender a essa crescente demanda. Há um descompasso. Travam-se batalhas homéricas em todas as arenas, em prol da conservação de áreas que abrigam nascentes, espécimes raros, alguns, inclusive, em perigo de extinção. Às vezes, os abnegados defensores da natureza até vencem algumas; outras muitas são derrotados. Não é trivial lidar com esse contexto, envolvendo interesses de todas as tipologias. Claro que há pessoas que desejam, pura e simplesmente, um lugar para chamar de seu. Argumentar com esses já não é fácil. Imagine-se frente a outros tipos de interesse, que orbitam em torno do lucro desmesurado. A esses, pouco importa quando um olho d’água será soterrado para dar lugar a um condomínio residencial. Quem consegue sensibilizar esses “empreendedores”? De pouca valia serviu a crise hídrica vivenciada em São Paulo, e que, agora, exige sacrifícios à população do Distrito Federal. Esperemos que o bom senso prevaleça. Ou isso ocorre ou a vida imitará a arte, reproduzindo cenas de filmes catastróficos de lutas até a morte por um copo de água.

Evandro Valentim

Evandro Valentim

Brasiliense; casado, pai e avô; mestre em gestão do conhecimento; especialista em gestão de RH; administrador; e escritor. Publicou Aventura no cerrado (Assis, 2017); Aventura na floresta: bichos e lendas daqui e dacolá (Assis, 2016); “Cliques narrativos: um romance em crônicas” (Assis, 2014); e “Causos de RH: o livro” (Livre Expressão, 2011). Aprendiz sênior em temas ambientais.

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